Minha mãe sempre foi uma mulher simples... Daquelas meninas criadas no interior, dedicada, trabalhadora, humilde, sonhadora...
Nunca foi cercada de luxo, dinheiro, e outras tantas comodidades... Mas também, nunca acomodou-se com o pouco que sempre teve! Entregue ao trabalho desde os seus tempos mais tenros (devido às necessidades que a vida lhe impunha), não teve a oportunidade nem mesmo de cursar o terceiro ano do ensino fundamental, pois nascera de família pobre, e precisava garantir o seu próprio sustento.
A graduação escolar dela é sim, muito pequena. Mas a cada dia que passa, ela me surpreende ainda mais com os seus ensinamentos tão cheios de sabedoria.
Já dizia o poeta que para ser sábio, não é preciso ser inteligente... Pois a vida trata de nos dar a sabedoria que não adquirimos com graduação alguma. E minha mãe, é a prova disso!
Mas veja bem, não estou dizendo que não precisamos buscar o conhecimento através da graduação. Muito pelo contrário... Se quisermos ser pessoas melhores, precisamos buscar melhorias através do estudo! O que quero dizer, é simplesmente que minha mãe me fascina com sua sabedoria tão carregada de humildade.
Ela sempre foi uma mulher apaixonada por flores, jardins, hortaliças... E sempre que possível, tratou de cuidar dos seus próprios canteiros no quintal de casa, garantindo assim um jardim cheio de flores, e alimentos saudáveis à mesa (frutos de seu próprio trabalho e cuidados em nossa horta).
Mas, nestes últimos dias, uma cena me chamou a atenção: Vi minha mãe mudando um pezinho de tomate quase morto, com as folhas amareladas, e um tanto murcho de um canteiro para outro.
Ao me deparar com esta cena, me aproximei dela e (na lucidez de minha arvorada inteligência) a questionei se ela realmente acreditava que aquele pezinho de tomate poderia ser salvo, apenas sendo mudado de um lugar para o outro. Ela simplesmente disse: "Se Deus quiser, vai."
Não quis saber os motivos de ela estar fazendo aquilo. Nem mesmo disse "Amém" quando ela terminou de responder a minha pergunta. Apenas virei as costas, e segui com as minhas atividades habituais.
Alguns dias depois, quando já havia até me esquecido daquela cena, vi minha mãe parada embaixo da sombra de uma árvore, admirando os primeiros raios de sol tocando suavemente as folhas esverdeadas daquele mesmo pezinho de tomate, que ela prestara tanto cuidado.
Me aproximei de novo dela, e, dessa vez, murmurei baixinho em seu ouvido: "Está bonito, né?"
Ela me respondeu: "É... Deus faz milagres, quando a gente tem um pouco de fé."
Novamente, não respondi nada! Mas dessa vez, foi porquê não estava preparado para responder com algo a altura do que ela tinha acabado de me dizer. Fiquei ali, admirando junto dela, aquele pequeno milagre que Deus tinha feito através de suas mãos.
Os dias foram passando, e aos poucos, as flores do tomateiro foram surgindo... Em seguida, os frutos. Até que então, minha mãe põe a mesa, e eu me delicio numa saborosa salada dos tomates da minha mãe, enquanto ela me diz com um sorriso largo em seus lábios:
"Este é o sabor de um milagre."
E eu, com minha arvorada (ou melhor, tomatada)inteligência, nada pude fazer, além de fechar os olhos e saborear daquela fé que minha mãe passou então a me alimentar.
(Gentil Buratti Neto)