quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Coisas impossíveis...

"Nunca desista de sonhar com coisas impossíveis. O impossível se revela à quem busca na fé um Deus maior que a pequenez da condição humana."
(Gentil Buratti Neto)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A minha mãe, e os óculos


Você já parou para pensar o que alguns objetos nos diriam se eles tivessem essa oportunidade? Foi o que me perguntei hoje pela manhã quando vi os óculos que minha mãe deixava sobre a mesa. Enquanto tomava um café apressado para não perder a hora, fui convidado a desacelerar o ritmo quando descobri que eles me observavam naquele momento. Talvez, ao dormir ontem à noite, despretensiosamente, minha mãe tenha os deixado ali, naquela posição, daquele jeito, sem se dar conta de que eles estariam a me observar enquanto tomava o meu café.
Fiquei por alguns segundos sem saber o que fazer... Tomar o café, ou dar atenção aos óculos? Parece ser estranho não é mesmo? A sensação que tive era a de que ele também quisesse participar daquele momento, igual fazem os cãezinhos quando ficam a nos observar enquanto fazemos nosso lanche, atentos a um pedaço de pão que cai de cima da mesa.
A feição daqueles óculos era transparente. O rosto de minha mãe ainda o privava de participar de suas expressões. E nessa hora, pude reconhecer nele, o pedido para voltar a ser novamente o contorno do rosto de minha mãe. Eles pareciam tristes e solitários enquanto, naquela transparência, não existia a cor azul dos olhos que eles protegiam e a única expressão que eu via, era de abandono.
Sei que pensava alto demais, mas o que eu via ali, não eram apenas dois pedaços de vidro unidos a uma armação de metal. Eram as expressões suaves que minha mãe tinha enquanto me olhava. Os óculos já eram parte do que ela era. Assim como os óculos refletiam o silêncio do abandono longe dela, ela também carecia de expressões enquanto não os tinha.
Terminei de tomar meu café, levantei, e fui até o seu quarto para deixar os seus óculos na cabeceira de sua cama. Ainda assim, não seria este o lugar mais correto que eles deveriam estar, mas já não se sentiriam sozinhos... A minha mãe, e os óculos.
(Gentil Buratti Neto)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Uma jóia a ser lapidada


Ultimamente tenho pensado muito sobre o amadurecimento humano. Em quanto precisamos ser guiados por ensinamentos que, às vezes, custam nossa insatisfação e por alguns momentos, são capazes de nos entristecer. Amadurecer é processo duro de lapidação. É crueza de vida. É aprendizagem cotidiana de quem não se descuida de suas inquietações.
Por diversas vezes, senti na pele a crueza de ver-me a frente de quem eu era e quem eu queria ser. Eu estava ali, incompleto e cheio de dúvidas. E à minha frente, alguém que eu desejava ser... Bem resolvido e com entendimentos que satisfaziam as questões da minha existência. Sentia-me amarrado, como se só o tempo fosse capaz de me retirar dessa situação desconcertante. Eu desejava ter respostas prontas que eu não sabia onde procurar. Não sabia nem mesmo se elas existiam. As dúvidas tumultuavam meus pensamentos e eu não sabia como respondê-las.
Foi aí que um dia, ouvi alguém dizer , que quando precisamos tomar uma decisão e não a tomamos, isso já é uma decisão tomada, mesmo que não façamos nada. Na mesma hora, imaginei que essa fosse a resposta para alguém acomodado... Para alguém acostumado a assistir o espetáculo de braços cruzados. E este não era o meu caso. Imaginei que essa resposta não fosse para as minhas questões. Mas com o passar do tempo, vi essa frase fazer sentido quando me desprendi do egoísmo que eu havia criado para mim mesmo. Pensava ser capaz de resolver todas as minhas inadequações sozinho, e a medida em que eu precisava amadurecer, isso não era mais possível.
O tempo foi passando, e conheci muita gente. Gente que serviu de exemplo, gente capaz de me mostrar alguns caminhos, gente que precisou me repreender e gente que revelava aos poucos as respostas de que eu tanto precisava. Estas pessoas nunca me disseram que seria fácil o aprendizado. E por diversas vezes, me deixaram apenas com o meu silêncio e minha vontade de desistir. Era a dureza da pedra a ser lapidada. Minhas mãos ainda eram suaves e precisavam ser calejadas... Só quem já pode sentir a experiência de um trabalho árduo sabe o quanto isso dói. Pude perceber então, devagarzinho, que nenhum aprendizado se dá na instantaneidade de nossas urgências. Mesmo quando nos sentimos sufocados pela cobrança incessante do nosso amadurecimento. Amadurecer requer tempo e cuidados.
Com o tempo, fui descobrindo a preciosidade que se revelava em cada busca. Era o brilho da jóia sendo despido de seus excessos, da dureza que a protegia. A descoberta que eu fazia era surpreendente. Fui me despindo das cobranças exageradas que eu fazia em busca de respostas... Era preciso correr o risco de descobrir o quanto o silêncio é capaz de deixar cicatrizes. Eu não aprendi a me acomodar, e nem quero isso, mas percebi que o tempo do amadurecimento depende das esperas que impacientemente eu fazia.
Ainda estou sendo lapidado. São esperas constantes. Inúmeras perguntas sem respostas, e respostas que talvez eu nunca as tenha. E são essas as circunstâncias que me levam ao amadurecimento. Amadurecer talvez seja isto... Não ter a certeza da resposta pronta, mas encontrar sentido na beleza da jóia que está por ser revelada. E enquanto somos talhados impiedosamente por nossas inquietações, Deus dá formas à um coração que constantemente precisa ser lapidado.
(Gentil Buratti Neto)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Minha cidade do interior


Voltei prá casa... Depois de ter ouvido quase todo tipo de barulho, todo tipo de som que gritavam aos meus ouvidos. Senti saudade do aconchego que minha cidadezinha me proporciona. Saudade de poder dar um passo de cada vez, sem precisar me cuidar do trânsito que me apressava.
Voltei para o tempo das esperas. Ao encanto do tempo que me permite observar o amadurecer de cada fruto nos galhos da laranjeira. Observar o vai e vêm dos beija-flores que se deliciam na água com açúcar que minha mãe deixa cuidadosamente pendurada num bebedouro na areazinha dos fundos de casa para que todos possam vê-los.
Voltei para saborear as refeições recém saídas do fogão à lenha, feitas naquelas panelas de ferro que trazem lembranças da infância... De vida no campo, de simplicidade nos gestos. Voltei para sentir o aroma de café passado de manhãzinha antes de sair para o trabalho. Voltei para o meu jeito de ser feliz. Para poder escolher com mais cuidado. Para ser melhor cuidado. Voltei para um olhar mais demorado, para o silêncio na falta de respostas e para a dúvida entre esperar mais um pouco e outro tanto mais.
Voltei para minha cidadezinha no interior. Cansei de ser metrópole... De ser palavras apressadas, de ser metade nas verdades que considero essenciais.

Meus ouvidos já podem ouvir o barulho do vento lá fora... Da conversa despreocupada no sofá da sala carregada de sorrisos demorados.
Minha cidadezinha no interior é assim... É oportunidade de ser cultivo constante... É espera para um amadurecer cotidiano... E de silêncios que nos levam para longe.
(Gentil Buratti Neto)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

É hora de partir

É hora de partir... E agora, como fica?
O que eu faço para me ocupar das horas em que passávamos juntos jogando conversa fora e relembrando histórias de vida?
Quem vai ocupar o lugar que está vazio no sofá da sala?
Como eu faço para materializar as lembranças dos sorrisos que continuam sorrindo na minha memória?
Onde eu encontro o som da sua voz que soava como música aos meus ouvidos?
Eu tinha tudo enquanto tinha você por perto, mas e agora, como eu fico?
Quem eu vou convidar para passar comigo as manhãs de domingo planejando o que fazer à tarde?
O que eu faço com as malas que você deixou prá trás ainda sem arrumá-las?
...Do livro que você ainda nem terminou de ler?
...Da história que você interrompeu sem despedidas?
....Do "eu te amo" que eu ensaiava em te dizer?
Eu perdi muito tempo enquanto estivemos juntos. Mas e agora, como eu fico?
Com quem vou cantar a nossa música favorita?
Você não vai mais voltar, como é que eu vou dizer que sinto a sua falta?
Será que ainda podes me ouvir?
Afinal, onde você está agora?
Será que sente tanta saudade quanto eu?
E agora, como eu fico?
É sempre chegada a hora de partir. De desencontros que não se dão ao privilégio das despedidas. De palavras ensaiadas que não tiveram oportunidade de serem ditas e de histórias interrompidas sem que a gente tivesse a chance de possibilidades.
Agora já não há mais tempo para ensaiar o jeito mais correto de ser frase pronta, de procurar a palavra mais bonita e a resposta para perguntas que ainda nem começaram.
Seja eterno com quem você ainda tem ao seu lado. Diga hoje o que precisa ser dito mesmo que não tenha sido ensaiado ou planejado. O bom da vida, é permitir as coisas acontecerem com a possibilidade de sermos surpreendidos. Surpreenda a quem você ama, ou a você mesmo. Seja possível às reações de quem vê em você algo inesperado e lembre-se sempre:
O que nos permitimos viver agora, precisa ser eternizado na lembrança de quem ainda temos por perto.
(Gentil Buratti Neto)