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Você já parou para pensar o que alguns objetos nos diriam se eles tivessem essa oportunidade? Foi o que me perguntei hoje pela manhã quando vi os óculos que minha mãe deixava sobre a mesa. Enquanto tomava um café apressado para não perder a hora, fui convidado a desacelerar o ritmo quando descobri que eles me observavam naquele momento. Talvez, ao dormir ontem à noite, despretensiosamente, minha mãe tenha os deixado ali, naquela posição, daquele jeito, sem se dar conta de que eles estariam a me observar enquanto tomava o meu café.
Fiquei por alguns segundos sem saber o que fazer... Tomar o café, ou dar atenção aos óculos? Parece ser estranho não é mesmo? A sensação que tive era a de que ele também quisesse participar daquele momento, igual fazem os cãezinhos quando ficam a nos observar enquanto fazemos nosso lanche, atentos a um pedaço de pão que cai de cima da mesa.
A feição daqueles óculos era transparente. O rosto de minha mãe ainda o privava de participar de suas expressões. E nessa hora, pude reconhecer nele, o pedido para voltar a ser novamente o contorno do rosto de minha mãe. Eles pareciam tristes e solitários enquanto, naquela transparência, não existia a cor azul dos olhos que eles protegiam e a única expressão que eu via, era de abandono.
Sei que pensava alto demais, mas o que eu via ali, não eram apenas dois pedaços de vidro unidos a uma armação de metal. Eram as expressões suaves que minha mãe tinha enquanto me olhava. Os óculos já eram parte do que ela era. Assim como os óculos refletiam o silêncio do abandono longe dela, ela também carecia de expressões enquanto não os tinha.
Terminei de tomar meu café, levantei, e fui até o seu quarto para deixar os seus óculos na cabeceira de sua cama. Ainda assim, não seria este o lugar mais correto que eles deveriam estar, mas já não se sentiriam sozinhos... A minha mãe, e os óculos.
(Gentil Buratti Neto)
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