Hora de trocar as cordas do violão. Seria um momento fácil, se não fossem as histórias que o som delas me proporcionaram. As rodas de amigos, o cantar desafinado daqueles que tentavam contar a cada música uma parte de suas vidas, e a boa companhia de um instrumento que deu os acordes mais consoladores em horas de solidão.
Delas nasceram canções, repetiram-se versos, fizemos poesia. Os dedos gastos e calejados contam o quanto fomos íntimos em cada toque. Escalas e acordes nos ligaram enquanto nós (eu e meu violão) tentávamos esboçar os mesmos sentimentos. Eramos um só instrumento! Ligados por um desejo único chamado melodia.
Dizem que as rugas no rosto, contam um pouco da história daquele que as possui. Assim como as marcas deixadas no coração, contam o quanto ele já foi capaz de amar... Neste momento, deito o violão sobre meu colo e admirando a cor da ferrugem sobre as cordas já envelhecidas, me recordo quantos sorrisos fomos capazes de proporcionar... Dos corações que ajudamos a aproximar e das histórias que hoje podemos contar. Ferrugem também conta histórias! As mais belas, talvez.
Junto destas mesmas cordas, encontrei o caminho que me aproximaram ainda mais de quem eu amo. Sua companhia, esteve presente quando precisei criar coragem e surpreender o coração mais belo que eu já conheci, que debruçava-se sobre a sacada de seu apartamento, enquanto eu, tentava alcança-la com nossa canção, à noite. Tivemos nossa Lua como testemunha daqueles olhos tão lindos que me iluminavam.
Frouxo as tarraxas, e a cada volta dada, o som vai diminuindo. O tom grave, vai tomando conta de cada corda sendo frouxada, como se fossem o último adeus de quem sempre esteve ao meu lado. Me despeço de suas melodias entre lágrimas. As mesmas talvez, que ajudaram a enferrujá-las. As mesmas que uniram nossa breve história, e agora, eternos momentos.
Tomei uma decisão... De hoje em diante, vou guardá-las em um lugar especial. Para que eu me lembre sempre da melodia que entre nós existiu!
(Gentil Buratti Neto)