Já tive o coração calejado, sangrado e arranhado pelos mesmos motivos que hoje, me fazem seguir em frente. As marcas que ali ficaram, aos poucos dão contorno e forma às palavras que mansamente se derramam num pedaço de papel.
A vida se entrega à filosofia, e a poesia vai ganhando espaço num terreno tão hostil. Pois as palavras de nada valem enquanto enclausuradas. Acredito que por essência, nascemos para construir pontes, para ligar corações esquecidos. Mas as vezes, quando menos percebemos, palavras, gestos, e até mesmo o abandono destroem o caminho que serviria para nos ligar ao outro lado da margem.
Tenho me convencido de que preciso realizar um trabalho igual aos que as formigas fazem. Para alcançar o outro lado, vou equilibrando nos ombros uma carga até mesmo maior do que eu. Vou juntando os pedaços, e devagarzinho, vou construindo a minha ponte. É trabalho árduo, que leva tempo e a incerteza da chegada é sempre constante.
Andei descobrindo que devo ter um coração de formiga dentro de mim. Pois onde eu me proponho chegar, às vezes, parece ser distante demais. As adversidades e obstáculos, se sobrepõe à minha frente num caminho que para os maiores, se torna tão curto. Vou trabalhando em silêncio, para não chamar a atenção daqueles que por instinto, tentam me eliminar. E para continuar acreditando, preciso usar dos meus sonhos para não esquecer que ainda, preciso construir a ponte.
Quero que minha ponte seja construída de pedacinhos de flores... Pois as formigas sabem a beleza que nelas há, e de recortes em recortes, vão colorindo seu caminho. Quem sabe algum dia, quando minha ponte estiver construída, eu deposite nela também algumas sementes das flores que mais me fascinam. Vou escolher as rosas!
As formigas sabem que não há tempo para o descanso. Trabalham dia e noite. E se elas se derem ao privilégio do sono, talvez ao final de sua vida tão curta, não tenham feito a diferença que elas precisam ser na vida daqueles que tanto precisam delas. Deve ser por isso, que meu coração não descansa a noite. Não há tempo para deixar de amar.
O tamanho dele, eu ainda não descobri, pois como nas formigas, ele não está visível a olho nu.
E assim, de pouquinho em pouquinho, vou costurando em filosofia os pedacinhos que vão dando formas à minha ponte. Se eu vou conseguir chegar ao outro lado? Eu ainda não sei. Mas o amor que existe hoje em mim, é quem me leva a seguir em frente.
E mesmo que no final dessa vida de formiga eu não tenha conseguido construir a minha ponte, vou deixar mais colorido os caminhos por onde andei, para que seja possível à quem por ali caminhar, perceber que dentro de mim, sempre bateu um coração que jamais desistiu do amor.
(Gentil Buratti Neto)
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